quarta-feira, 8 de junho de 2011

Gutierrez - Agora Chora -Single-2011



Que letra,que RAP!!!!!!!!!!

Um rap sujo como um poema de Gullar, pesado de fazer cair reboco da parede

"Criando raps entre ruínas e prédios"


por Jeovanna Maria


Fui tomada pela sensação de que a história estava toda ali escrita, nos versos da impactante "Agora Chora", que Gutierrez apresenta hoje ao público. Um lamento de um cangaceiro das ruas, autobiográfico, sem censura. Um rap sujo, como é sujo o poema de Ferreira Gullar, um som pesado, de fazer cair o reboco da parede, como definiu Damien Seth, produtor do primeiro disco de Gutierrez, "enRIQuecer". Fui tomada pela sensação de que as palavras sobrariam, porque de forma visceral e transparente, Gutierrez descreveu as mazelas de todo mundo que tem um sonho e já pensou em desistir. Dizer mais o quê?

A voz agressiva e a personalidade inconfundível de Gutierrez estão refletidas nos versos de "Agora Chora", acompanhados por um rock que se esboça presente e representa o estado mental do compositor, no momento da criação. A melodia é cadenciada pela bateria de Vidaut (Maldita) e pelos pianos de Donatinho, numa produção assinada por Damien Seth e o caboverdiano GOLBeats.

Nascido Vitor Andrei Costa, o carioca de 30 anos, que se batizou Gutierrez por conta de um padre jesuíta, lançou a demo "Esse é Meu Reino" (2004) e a "Corpo Fechado Mixtape" (2009). Para 2011, Vitor Andrei, Bandido Prodígio e Gutierrez se encontram para sintetizar na faixa lançada pela Blade Rio, o sofrimento durante o percurso em busca do êxito.

Reunindo algumas referências de sua formação e rendendo homenagens a alguns gênios - gêmeos na arte - que partiram cedo, "Agora Chora" nos convence de que na intimidade, somos todos sucetíveis, inclusive ao sucesso: "Sou Heath Ledger, sou Jimmy Hendrix. Axl se drogando sem lançar Chinese Democracy, mais estranho que Matrix, mais autista que Madlib. Speed, Primo e Sabotage vencendo antes de partir".

Enquanto mixava a faixa, Damien Seth escreveu em sua página pessoal do microblog: "Muito alto, muito grave. Caiu reboco do teto". O francês contou histórias sobre a concepção da letra de "Agora Chora". Gutierrez havia abandonado o rascunho, depois de fazer as duas primeiras estrofes. O lamento ficou por alguns anos empoeirado, em algum lugar de difícil alcance. A crueza e a falta de dó em rasgar o ouvinte com a verdade de sua catástrofe, me remeteu ao poeta consagrado, o rei de todas as coisas sujas, pesadas e importantes, Ferreira Gullar.

Gullar começou a compor a obra "Poemas sujos" em uma década e terminou em outra, descreveu o que corta, o que machuca e o que faz parar o homem diante da realidade sem firula, justamente como Gutierrez se apresenta nessa faixa. Não, não é uma comparação entre estilos, tampouco uma tese estilista, é simples como parece: se escrever é contar aquilo que se vê, Gutierrez viu a cidade o hostilizar, assim como Gullar, e os dois nos convidam a enfrentar nossos infernos particulares e chorar a falta de graça inerente ao pretendido sucesso de cada um de nós. É sobretudo um convite a chorar agora, deixa arder, até o próximo verso que chama a vitória, sem dar de ombros aos escombros, aos restos e às ruínas, que fazem de cada um de nós as fortalezas que somos. Porque todo mundo vai rir depois.


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LinkGutierrez - Agora Chora (Prod. Damien Seth & GOLBeats)



Gutierrez "Agora Chora" Drum Session part. Vidaut (Maldita)

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